Procura por certificados de energia renovável disparou em 2016

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A preocupação das empresas e dos consumidores brasileiros em utilizar energia limpa e contribuir para a redução das emissões de gases poluentes na atmosfera fez disparar no ano passado a demanda por Certificados de Energia Renovável, os chamados RECs (na sigla em inglês). Foram negociados 107.543 RECs em 2016, conforme levantamento feito pelo Instituto Totum, que coordena o Programa de Certificação de Energia Renovável e é o emitente local dos RECs. Para fins de comparação, em 2015 e 2014 foram transacionados 13.462 e 244 RECs, respectivamente, o que mostra o crescente interesse do mercado por esse tipo de produto. A expectativa do Totum é que até o final de 2017 o mercado movimente cerca de 1 milhão de RECs.

Segundo Fernando Lopes, diretor do Instituto, os certificados de energia renovável surgiram diante da impossibilidade de o consumidor identificar a origem dos elétrons. Em qualquer parte do mundo, a matriz elétrica é composta por um mix de fontes, como termelétricas a carvão e a óleo (mais poluentes), eólicas e solares (com baixo impacto ao meio ambiente). Como nem todos os consumidores têm condições de investir em uma usina para gerar sua própria energia renovável, a saída então é receber a energia da forma tradicional e adquirir o volume de energia equivalente ao consumo por meio de certificados. Cada certificado equivale a 1 MWh de eletricidade produzida a partir de fontes renováveis.

Dessa forma, os consumidores estão investindo na geração da mesma quantidade consumida em energia limpa, ou seja, eles se “apropriam” somente da parte limpa que é colocada no sistema. Com os RECs as empresas e consumidores podem garantir 100% de energia renovável para seu uso sem ter de investir, elas próprias, em geração. “Esse é um sistema que existe no mundo, mas que não existia aqui no Brasil”, disse Lopes.

O programa de certificação brasileiro foi criado pela Totum em 2012. “No início, os empreendimentos de geração utilizavam essa ferramenta do certificado para valorizar sua própria energia, mas a ponta do consumo não estava consciente disso”, comentou o diretor. Em 2014, as RECs brasileiras conseguiram o reconhecimento internacional, concedido pelo Green Building Council, órgão de certificação mundial de edificações verdes.

“Para você ter essa certificação Green Building, um dos itens é gerar ou consumir energia renovável. Só que no Brasil não existia um modelo de certificação para esses empreendimentos. Trabalhamos junto ao Green Building e conseguimos dar uma equivalência, o que explica o grande aumento da procura por esses certificados. Cerca de 90% da demanda por certificados são para edificações construídas com esse padrão verde”, explicou Lopes.

Outro fator que ajudou a aumentar a demanda por emissão de certificados foi que a Totum também conseguiu em meados de 2016 o reconhecimento da Internacional REC Standard (IREC), órgão que define as regras para os sistemas de RECs no mundo. Muitas organizações têm metas internas de sustentabilidade. Há empresas de atuação global que possuem metas de 100% renewables nos próximos 4 a 6 anos em nível mundial, segundo Lopes.

“Com a implantação do IREC no Brasil, no ano passado, conseguimos atender a demanda de empresas multinacionais que possuem políticas internas que exigiam a compra de certificados reconhecidos mundialmente. Porém, mesmo no País, a procura de empresas por RECs vem aumentando muito”, afirmou Lopes. A oferta de energia renovável também vem sendo ampliada. Até meados do ano passado a oferta estava limitada a três empreendimentos (dois hídricos e um eólico), agora existem mais de 15 empreendimentos capazes de gerar RECs e outros dez em processo de adesão.

Apesar do crescimento significativo desse mercado em 2016, o Brasil ainda está engatinhando nessa questão de RECs. “Nos EUA, por exemplo, distribuidoras locais de energia ofertam RECs aos seus clientes, de forma tal que consumidores residenciais podem escolher o tipo de energia que consomem. Com o tempo, o Brasil poderá chegar a esse patamar de desenvolvimento”, concluiu Lopes. O programa tem a participação da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

 

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